quarta-feira, 24 de março de 2010

Folha dá nove dicas para cobrir casos quentes

O blog Novo em Folha, mantido pela jornalista Ana Estela de Sousa Pinto como extensão do programa de treinamento de novos jornalistas da Folha, pega o gancho do caso Nardoni para dar ótimas dicas de cobertura. Vale conferir o post, reproduzido abaixo (veja o original aqui).


9 DICAS INSPIRADAS PELO CASO NARDONI

Boa hora para dividir com todos os leitores as dicas do nosso professor de direito, GUSTAVO ROMANO [quem quiser saber mais sobre direito, principalmente no que tange ao jornalismo, deve acompanhar o blog dele, aqui]:

Cuidados a tomar em casos midiáticos

Casos como o da Isabella Nardoni, que movimentam a opinião pública e a mídia, mas nos quais não há provas nem confissão, exigem cuidados por parte dos jornalistas:
1 - Atribuir todas as informações às fontes. Se um dia descobrirem que eles eram inocentes, o que não foi atribuído às fontes pode ser usado contra a Folha e os jornalistas responsáveis.
2 - Outros veículos de mídia não são fontes. O fato de algum outro jornal ter publicado algo como certo não significa que ele é verdadeiro. Cheque com uma fonte ou, no limite, atribua ao veículo concorrente.
3 - Tome cuidado com suas próprias emoções, Estamos todos emocionalmente envolvidos, mas ninguém sabe o que de fato aconteceu (talvez nem os réus). Tenha certeza que você está reportando fatos e não suas emoções.
4 - Cuidado com o que as pessoas envolvidas no processo falam. É natural que Ministério Público e advogados queiram usar a mídia para influenciar a sociedade, jurados etc. TUDO tem de ter outro lado. Ou outroS ladoS.
5 - O fato de eles serem condenados no fim do processo não quer dizer que eles são culpados: ainda caberá recurso. O mesmo se eles forem absolvidos. O processo só termina com o trânsito em julgado (quando não há mais possibilidade de recurso)
6 - Há muito jurista dando entrevista para aparecer. E há muito jurista despreparado por aí. Cuidado para não ser levado por informação errada ou fazer propaganda de advogado.
7 - Não se esqueçam de que todos somos inocentes até que haja prova irrefutável em contrário. Cabe ao Ministério Público provar a culpa, e não à defesa provar a inocência.
8 - Você não gostaria que sua família fosse exposta se você cometesse um crime. O mesmo vale para a família de qualquer acusado. Pondere se há um interesse jornalístico ou se há apenas uma curiosidade mórbida a respeito dos membros da família e amigos.
9 - Não se esqueçam de que, se eles forem inocentes eles terão de reconstruir suas vidas do zero. Cuidado para não criarem uma situação na qual essa reconstrução seja impossível. E mais: se eles forem inocentados, suas vidas ainda estarão em perigo. Basta um louco resolver fazer justiça com as próprias mãos. Cuidado para não jogar gasolina na fogueira.

Vale a pena ler de novo: o jornalismo zen e a arte de manter distanciamento

Vale a pena ler de novo: lista de filmes e livros sobre o risco de jornalistas arruinarem a vida dos outors

Vale a pena ver de novo: neste vídeo, MONICA BERGAMO sugere: "Tem que ser um furacão na hora de apurar e um gelo na hora de escrever".
 
Obs: agradeço à Ana Estela, que gentilmente permitiu a reprodução do texto. Siga no Twitter: @anaestela

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